Míriam Pacheco da Silva Seixas
O blog anda muito desatualizado, por motivos de força
maior, ou de força melhor. Explico, jornada dupla para aumentar a renda, fora a
jornada tripla, manter a casa limpa e organizada e atividades extraclasse. Mas nas noites em que o sono se vai é bom
aproveitar para pensar na rotina e nos episódios de sala de aula e ao mesmo
tempo são reflexos da nossa ordem social.
É cada vez mais gritante a quantidade de alunos
hiper-ativos nas escolas, mas que de hiperativos não tem nada. São rotulados
assim pela própria família que às vezes não consegue frear ou impor limites aos
filhos. Outro dia ouvi uma mãe dizer o seguinte: meu filho é hiperativo. A professora,
pergunta – e ele faz acompanhamento especializado? Não! – disse a senhora, mas
eu sei disso por que tenho um sobrinho que é, e o comportamento dos dois é
igualzinho. Já ouvi outra mãe dizer que dividia o remédio de um filho com o
outro, por que ela já sabia que o mais novo também era hiperativo. Quem
diagnosticou o mais novo como hiperativo? A própria mãe. Paira no ar a duvida, o
menino é hiperativo ou se encaixa mais no perfil dos hiper-ativos?
Uma professora que também tem TDAH (transtorno de déficit
de atenção e hiperatividade) que é psicopedagoga, arrepia-se ao ouvir tais
histórias e relatos de colegas de profissão.
Outra mãe disse o seguinte: – não dou o remédio para ele
antes de mandá-lo para a escola, para que não durma na sala de aula. Hora
bolas! Quem conhece a sala de aula nos dias atuais, ou já parou dois minutinhos
que seja na porta da sala, sabe que o que mais temos são alunos hiper-ativos,
conectados o tempo todo a muitas coisas de uma vez só.
É a chamada geração Y. Geração que tem muitas
informações desconexas, mal transmitidas, ou mal recebidas, que tem uma babá
eletrônica a disposição para dispersar pensamentos nada lógicos e muito pouco
científicos. Geração que tem o tédio como a motivação para estudar ou fazer
atividade física. Já os alunos diagnosticados por especialistas com
hiperatividade sofrem ainda mais na convivência com os hiper-ativos do que com
sua própria hiperatividade. Quanto mais o ambiente é agitado, mais dificuldade
o hiperativo tem para controlar suas emoções, ficam agitados, confusos,
nervosos, estressadíssimos. Enquanto os realmente hiperativos precisam de
medicamentos e ensinamentos de concentração, os hiper-ativos precisam apenas de
limites. E o que seria limite? Será que alguém ainda se lembra de aplicar o
limite? É mais fácil deixar rolar para depois ver como fica.
Sempre digo aos pais nas reuniões que a função de ensinar
cansa e a de aprender dói. E é isso mesmo, cansa falar a mesma coisa todos dos
dias, mas a criança precisa desse ritual. Uma parte desse ritual de ensinamento
são os lembretes diários dos rituais: “vai tomar banho menino” ou “já escovou
os dentes”, etc. E digo que o aprender dói por que quando estamos aprendendo
temos preguiça, nosso corpo se contorce, chega o sono, a vontade de ir ao
banheiro. E isso acontece na escola sempre, fugidinhas da sala que os alunos
praticam para sair da sala que incomoda muito. Essa prática não são apenas
características dos alunos crianças não, alunos adultos também têm essa
resistência ao “aprender”. As nossas crianças precisam ser estimuladas a
aprender. Pois o adulto com toda essa forma de resistência corporal ao
aprendizado, ele tem em sua consciência que o aprender é necessário para sua
evolução.
Na concepção do mestre Paulo Freire, o ensino e
aprendizagem são um mesmo ato e processo político de formação e de
transformação das pessoas, onde quem ensina aprende e quem aprende ensina. “[...] quem forma se forma e re-forma ao
formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado.” Pedagogia da
autonomia, de Paulo Freire.
Estamos achando que nossos filhos aprendem sozinhos, pois
já carregam em si a carga automatizada geneticamente. Assim como as lagartas,
ao nascer carregam consigo o DNA da metamorfose. Pois uma vez que a borboleta
morre antes que seus ovos eclodam. Como é que a lagarta sabe que terão que
construir um casulo para se transformar em borboleta? A resposta é bem simples
elas transmitem toda suas características genéticas que a fórmula da
metamorfose.
E quanto a nós, humanos. Temos uma carga genética pronta,
com todas as informações? Obviamente não, por isso aprendemos e ensinamos.
Professoras escutam relatos de
alunos que são cada vez mais refletem como a nossa sociedade tem se comportado
e se conformado com a teoria da “a metamorfose humana”. É muito comum ouvir o
seguinte comentário: Nossa! Adotar uma criança! E se os pais são péssimas
pessoas, matam, roubam, são gays e etc., sendo assim a criança vai carregar
essa “carga genética do mau” com ela.
Como dito antes nesse texto, não
somos como as borboletas. Não carregamos no nosso DNA (Ácido desoxirribonucléico), a carga genética de caráter. A carga genética nos determina
fisiologicamente. Carregamos dos nossos pais apenas 25% de características, ou
outros 75% vem da nossa formação. Acontecem outros episódios na vida da criança
que vai determinar seu comportamento, é através do convívio social que ela vai
aprender a ser e a fazer. O primeiro convívio social da criança se dá por meio
do ambiente em que ela vive e das experiências que ela tem, e como assimila o
mundo a sua volta.
Sabemos de alunos com nove e dez anos, que viram
todos os capítulos de Gabriela – novela baseada na obra do mestre Jorge Amado,
escrita para um público específico, ou seja, adultos. A professora nem
precisava assistir, pois os capítulos chegavam fresquinhos, na ponta de língua
de uma meia dúzia de crianças.
Mas, quando a professora foi
tratar do assunto órgãos do sistema reprodutor, além de ter que rebolar para tratar
de um assunto tão terrivelmente delicado para essa idade, teve ainda que se
explicar várias vezes, sobre suas aulas para pais que, acharam as falas
transmitidas pelos filhos sobre as aulas como o fim do mundo moral.
Evitar mostrar imagens dos órgãos genitais nas atividades
de sala, pois a anatomia do corpo é imoral, para a nossa sociedade. A
“abominável anatomia do pênis” ou o “terror sanguinário do período menstrual”. Mas a novela com mulheres e homens de corpos
esbeltos e com roupas íntimas e em cenas picantes e muito normal, comum e bem
moral para crianças.
Agora, vejamos! A criança esta na fase da descoberta das
mudanças de seu corpo, que são rápidas e visíveis, e exatamente nesse período é
que precisam de orientações científicas sobre as mudanças do seu corpo. Não!
Meu filho não pode ouvir sobre sexualidade, muito menos ver a “vergonha do
corpo humano” (pensamento baseado na religiosidade), mas pode ver um romance adulto,
pois é uma novela singela de corpos nus que se envolvem em tramas fictícias.
Daí o que a professora faz? Ou fala de sexualidade, que
nada tem haver com ato sexual. Ou trabalha o assunto como se estivesse falando
do bicho papão, o terror das criancinhas (tipo o filme monstros S.A., que de
terror não tem nada), ou a profissional da educação pira na batatinha, mete o
pé na jaca, fica doida de mar ré de si. Acha-se incapaz ou incapacitada de
realizar sua tarefa, e daí corre com esse assunto, pois, aos olhos dos pais é o
terror em forma de professora.
Mas a babá eletrônica está lá à disposição, o computador
sem o devido acompanhamento do adulto fica lá bem aberto acesso, mais que as
porteiras dos latifúndios, por que essas sim, são bem vigiadas, armadas,
filmadas, o tempo todo. Enquanto isso nossas crianças ficam a navegar num mundo
cheio de fascínio e informações hiper-ativas?
Muitas crianças ganham o rótulo de hiperativa, mas são
apenas hiper-ativas, estão “plugadas” para algumas coisas e “desplugadas” em outras. Rodeada de
um mundo tecnologicamente avançado, e que é mais visual e desperta pouco a
percepção sensorial, que não aguça a curiosidade, e ao pensamento. A criança
chega à escola cada dia mais, preocupada em saber a resposta que com a pergunta.
É mais importante entender a pergunta e as intenções que ela desperta. Ou nós
mesmos damos mais ênfase às respostas certas, ou a critica sobre como foi
formulada as perguntas? Estamos estimulando as perguntas ou estimulando a
obtenção de respostas certas, sem um pensamento lógico e crítico.
Que nossas crianças façam sempre muitas perguntas e
obtenham menos respostas prontas, mas que elas mesmas procurem descobrir a sua
resposta sobre o mundo que o cerca.